quinta-feira, março 05, 2009

O lado da vida que tende para o nada - não há nada que não se possa perder, em definitivo. Não se pensa, aqui, naquelas (vocês as conhecem) que se mantêm nas veias, nos retratos que deixamos na sala, para que não esqueçamos. Deixem de lado essas perdas falsas, esses brinquedos de perda, simulacros de perda, o golem da presença na perda. Pensem naquela perda, aquela que você deixou. Não o seu pai, ou irmão, ou amor morto, mas aquele sorriso que tinha seu pai, ou irmão, ou amor morto, e que, essencial, de perdido que está, já não nos lembramos de esquecer. Pois o retrato, o bilhete, pois o pedaço de pano com que vocês dormem todas as noites e traz a ilusão da ausência dessa perda, eles são as pinturas ruins que copiam, fielmente, o acessório e o ilusório daquilo que se perdeu. O lado da vida que tende para o nada é a cor, a inflexão do lábio que têm quando estão surpresos, o ângulo bizarro que assumem os dedos nas palmas abertas, ou seja, o que não ficou gravado em uma rocha que se descubra.

Um comentário:

Daniela Rodrigues Badra disse...

Caramba, Polo, não consegui nem respirar lendo esse texto... ;-)