quinta-feira, dezembro 25, 2008
Veja, querida, o retângulo dessa caixa: é o símbolo de perene que não escapa ao tempo. Brancas angústias correm o céu. As folhas que caem desenham um arabesco. O astro passa, e traz as novas: as coisas são as mesmas, é hora de dormir. Escutamos o que as flores e os insetos nos dizem, e conseguimos, sempre, demonstrar: sabemos muito bem que tudo é desprezo.
terça-feira, dezembro 23, 2008
Você crê, e sempre, que o asfalto e o cascalho são o lado onírico da vida. Você, que pensa em termos de versos e capítulos, confronta-se, triste, com a angústia irreversível desses dias, e duvida, por um instante, de sua fé. Anda, pega um livro, você sabe que não melhora nada.
Hoje é um buraco de perene.
Hoje é um buraco de perene.
Nesses ombros que eu vejo
Não sabia onde olhar.
Quando crias uma pele,
E ela brilha caprichosa,
O processo que incorporas
É o percalço que dissolve
Os caminhos que seguimos,
E transforma as tuas costas
Nesse campo sem veredas.
Uma vez que não forneces
Boas placas que seguras
Orientem nosso olhar,
Peço a ti para deixar
Com um dedo tão sensível
Eu buscar os teus traçados,
Para que eu possa afinal,
Reaver esse direito
De saber onde enxergar.
Não sabia onde olhar.
Quando crias uma pele,
E ela brilha caprichosa,
O processo que incorporas
É o percalço que dissolve
Os caminhos que seguimos,
E transforma as tuas costas
Nesse campo sem veredas.
Uma vez que não forneces
Boas placas que seguras
Orientem nosso olhar,
Peço a ti para deixar
Com um dedo tão sensível
Eu buscar os teus traçados,
Para que eu possa afinal,
Reaver esse direito
De saber onde enxergar.
sexta-feira, dezembro 19, 2008
sábado, dezembro 13, 2008
A espiral
Voltar, nós sabemos voltar: a cara sempre no mesmo chão. Rasga o rosto, e vê: as protuberâncias que cria a pele são a mostra de que não temos certo compasso - nova queda, e novo corpo. O tom regular dos tombos se acelera a cada passo.
Asculta: a carne se degrada no ritmo geométrico do tempo.
Voltar, nós sabemos voltar: a cara sempre no mesmo chão. Rasga o rosto, e vê: as protuberâncias que cria a pele são a mostra de que não temos certo compasso - nova queda, e novo corpo. O tom regular dos tombos se acelera a cada passo.
Asculta: a carne se degrada no ritmo geométrico do tempo.
quinta-feira, dezembro 04, 2008
quinta-feira, novembro 13, 2008
"La seule vie vraiment vécue, c'est la vie par l'art"
Proust
É preciso aceitar que esse senhor tem razão. A vida de fato completa está entre um homem e seu teclado, está no que consegue escrever. Na escrita, absolve-se a diferença entre belo e útil, entre puro e impuro. A escrita dá para os nossos pensamentos a forma que eles não têm em lugar nenhum, nem na nossa mente, nem na nossa fala, e nunca em nosso corpo. É na escrita que se imprime a verdade das coisas - não é a beleza uma solução?
Dando um tom pessoal que esse blog nunca teve, confesso que tenho dúvidas: é difícil acreditar no sucesso, nesse mundo tão impossível. Tudo é impossibilidade, tudo é limite - o real é o mundo do não. A beleza que eu vi, nunca a vi. Os amores que vivi, vivi só.
Mas lhes digo, com toda a convicção: hoje, sentei-me com o word, e escrevi. Digo para vocês: nada tem tanta realidade quanto a tinta no papel. Ela não será minha, e meu pai está morto - desafio que consigam explicar essas duas fatais realidades.
O texto, meus caros, não explica - dá sentido. Dá começo, meio, fim para o que parte do nada para não chegar nunca.
Proust
É preciso aceitar que esse senhor tem razão. A vida de fato completa está entre um homem e seu teclado, está no que consegue escrever. Na escrita, absolve-se a diferença entre belo e útil, entre puro e impuro. A escrita dá para os nossos pensamentos a forma que eles não têm em lugar nenhum, nem na nossa mente, nem na nossa fala, e nunca em nosso corpo. É na escrita que se imprime a verdade das coisas - não é a beleza uma solução?
Dando um tom pessoal que esse blog nunca teve, confesso que tenho dúvidas: é difícil acreditar no sucesso, nesse mundo tão impossível. Tudo é impossibilidade, tudo é limite - o real é o mundo do não. A beleza que eu vi, nunca a vi. Os amores que vivi, vivi só.
Mas lhes digo, com toda a convicção: hoje, sentei-me com o word, e escrevi. Digo para vocês: nada tem tanta realidade quanto a tinta no papel. Ela não será minha, e meu pai está morto - desafio que consigam explicar essas duas fatais realidades.
O texto, meus caros, não explica - dá sentido. Dá começo, meio, fim para o que parte do nada para não chegar nunca.
Quero, meu amor, dar a volta no nada, abraçar o errado: quero o gosto amargo que tem a cama. Quero o mesmo, quero o erro - quando você partir, querida, será o gosto do nada o seu rastro. O retorno impossível do fracasso, você, ao partir, será o gosto que tem o não.
Não esqueça sua hipérbole, querida, seu sorriso nos meus olhos.
Não esqueça sua hipérbole, querida, seu sorriso nos meus olhos.
terça-feira, novembro 11, 2008
Você anda com ela, perguntando-se das razões de sua atenção continuamente derramada sobre a tua incerta figura. Durante meses, você foi objeto de uma curiosidade simpática, de certa sedução estéril. Você poderia entender a indiferença, o asco, você entende a violência do chão áspero. O carinho, no entanto, tem o efeito de um murro: tua balbuciante resposta não é capaz de te pôr no eixo. Tuas mãos, tua pernas, tua cintura, respondem ao golpe desarticulando-se, transformando-te em um corpo continuamente jogado para frente. Mas ela não cessa de gostar, a empatia.
sábado, outubro 25, 2008
sábado, outubro 11, 2008
Mes phrases
Na sórdida paródia da construção, essas frases, Cristina, catalogam o vazio. Estão a copular em outro arquivo,só dizem o anódino, anoréxico, só dizem o ascético - essas frases só dizem o que cicunda um conjuno vazio. As frases, Cristina, perderam o contato com o chão, perderam o peso das preposições, e seus artigos. Minhas frases lamentam o que não têm, têm o que não queriam, deixaram o cheiro da pedra no solo. Essas frases, puras, suicidam-se num rodopio de nada.
Na sórdida paródia da construção, essas frases, Cristina, catalogam o vazio. Estão a copular em outro arquivo,só dizem o anódino, anoréxico, só dizem o ascético - essas frases só dizem o que cicunda um conjuno vazio. As frases, Cristina, perderam o contato com o chão, perderam o peso das preposições, e seus artigos. Minhas frases lamentam o que não têm, têm o que não queriam, deixaram o cheiro da pedra no solo. Essas frases, puras, suicidam-se num rodopio de nada.
segunda-feira, julho 07, 2008
quinta-feira, julho 03, 2008
terça-feira, junho 24, 2008
terça-feira, maio 27, 2008
terça-feira, abril 29, 2008
Catedral
É claro, a força do movimento:
Andar e o andar
Encontrei um homem no topo
De trinta metros de lógica
E antes do sustento chegar
Em uma lufada de ar embaixo
De seus pés ele disse
"Não fossem os braços
Pendulares sem razão
Na absoluta falta de
Chão, e sua conseqüente
Fissura,
Não haveria razão para trezentos
Anos de arquitetos pondo cal e morrendo,
Não sem esse percurso, que vai do alto
À pedra, ou antes,
A queda em si, excluídos,
Os pontos de partida e chegada,
O tempo de um ponto a outro,
E o corpo, e o vento,
O texto que se cala."
terça-feira, abril 08, 2008
É a assimetria disso tudo que me incomoda. Com uma certa perplexidade, me percebo percebendo-me, pequeno. Tenho que lidar com a minha completa inexistência nos olhos de outro. É uma fantasmagoria: ela só existe para mim na medida em que é grande, maior do que o mundo. De concreto, só vivemos sob essa condição. Mas ela ignora, e, na sua ignorância, atropela a única coisa que dá sentido e nos anima. Sou e só me defino por aquilo que calo.
quinta-feira, abril 03, 2008
O molar tem um compasso, que marca
o ritmo da fome, e força
o sangue do desejo, e traça
o destino que nos traça
O lento ruminar de você,
que, indigesta, ser assimilável
a dois estômagos de aço.
O transe, o ritmo da fome,
A força, o jogo que jogamos
que força, o ritmo da força
que crava, o canino no meu pulso
E injeta, o sangue que me vive.
o ritmo da fome, e força
o sangue do desejo, e traça
o destino que nos traça
O lento ruminar de você,
que, indigesta, ser assimilável
a dois estômagos de aço.
O transe, o ritmo da fome,
A força, o jogo que jogamos
que força, o ritmo da força
que crava, o canino no meu pulso
E injeta, o sangue que me vive.
sexta-feira, março 28, 2008
Os sonhos que eu tenho
Não me fazem gozar
Não sonho com meus mortos
Nem com as mulheres que eu posso ter.
Sonho com meus mortos mortos,
Sonho com as mulheres deusas,
Sonho com a vida viva.
Os sonhos que eu tenho:
Sonho com os prazos
Sonho com as contas
Sonho que fiz
as coisas que de fato fiz
E num sonho
(esse foi o mais estranho)
Na Rebouças com a Faria Lima,
Entre uma mulher que ignora
E um velho que anda
Sonhei que cruzava a rua
Na faixa em local seguro.
Não me fazem gozar
Não sonho com meus mortos
Nem com as mulheres que eu posso ter.
Sonho com meus mortos mortos,
Sonho com as mulheres deusas,
Sonho com a vida viva.
Os sonhos que eu tenho:
Sonho com os prazos
Sonho com as contas
Sonho que fiz
as coisas que de fato fiz
E num sonho
(esse foi o mais estranho)
Na Rebouças com a Faria Lima,
Entre uma mulher que ignora
E um velho que anda
Sonhei que cruzava a rua
Na faixa em local seguro.
quinta-feira, março 13, 2008
Olhar foi sempre o problema. O seu ângulo reto, suas linhas contínuas até o infinito, o compasso que desenhou o seu molar. O movimento externo, ineficaz e afetado da elipse que faz a sua mão que, ao parar no ar, mostra falanges retas, magras e ansiosas por serrar as minhas. Ou antes (pois nada disso é ver), o movimento contínuo e irritado de algumas de minhas artérias, sua pulsão para frente e a angústia do refluxo do desejo. Sou uma capacidade abstrata de criar traços em seu rosto.
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