segunda-feira, junho 22, 2009

A morte não leva propriamente os seres de nós; ela leva a sua memória. É a lenta morte da memória dos meus mortos que me acaba: são fantasmas a se arrastar na mente sem carne.

sexta-feira, junho 12, 2009

Um rascunho
A cidade tem maneiras estranhas de se enfeitar. Não é difícil encontrar espantos novos, enfeite em detalhes que surgem de uma zona de normalidade e se transformam em pasmo. É andar pela rua onde ela agora desfila com cadarços em pérola, olhos de carvão frio e o rastro de estar sozinho. Mas, coração teimoso, também dessa ferida eu cicatrizo: é fácil amar o corte e não desejar que olhos virem em verde doçura. Convenço-me na beleza que a indiferença tem: a pedra é mais doce que uma jujuba. Assim, o lado esquerdo da Marginal deixa de incomodar - da sua terra crescem cães mortos, diversa flora

quarta-feira, junho 03, 2009

É hora de se perguntar se há causa para a chuva. É hora de se perguntar se há causa para a tristeza, para a vontade de morrer. Para o não lugar, o não ser, para o não pertencer, não amar. De cima para baixo, a catástrofe - perder o rumo, perder o chão. Em segundos, as engrengens que cuidadosamente você alisou, montou e engraxou se transformam em sucata pela força demolidora do não. E o coração grita, sem resposta possível: "Não seja!". Força é obedecer. A velocidade daquele carro convida a um atropelamento, a altura daquele prédio pede um salto e um espatifar-se no chão.