sexta-feira, dezembro 22, 2006

Das minhas muitas manias, uma delas foi inútil. A sutileza de colecionar reside no fato que (esse é o segredo da felicidade) os objetos são um vazio que adquirem o sentido nulo na repetição exaustiva. Completar os espaços de um álbum era uma atividade inútil porque o que dirigia a vontade era o incólume do cheiro do novo. Claro, não se pode passar o tempo com perfume, e a corrupção progressiva o tornava desinteressante até que tudo era um hábito, rapidamente abandonado com um gosto de incompletude insuportável.
Olhei arrepiado para aquela figura, molhada em cola, em um sentido quase transversal a sua moldura. Sendo preciso ocupar-se com o nada, ocupa-se perfeitamente. Depois de tudo o que foi dito, certamente está claro que não fora eu a cometer essa atrocidade.
Em algum lugar no tempo e no espaço, cuidando de seu aquário, algum tipo nulo deixou de alimentar os peixes para mudar de hábito, e viu alegremente a peste do canibalismo virar cada uma das pedrinhas. Os erros, já sabemos, são um pedaço de morte que comemos no jantar. O seu suicídio ritual foi comemorado com fogo e pétalas.