quinta-feira, novembro 13, 2008

"La seule vie vraiment vécue, c'est la vie par l'art"
Proust

É preciso aceitar que esse senhor tem razão. A vida de fato completa está entre um homem e seu teclado, está no que consegue escrever. Na escrita, absolve-se a diferença entre belo e útil, entre puro e impuro. A escrita dá para os nossos pensamentos a forma que eles não têm em lugar nenhum, nem na nossa mente, nem na nossa fala, e nunca em nosso corpo. É na escrita que se imprime a verdade das coisas - não é a beleza uma solução?

Dando um tom pessoal que esse blog nunca teve, confesso que tenho dúvidas: é difícil acreditar no sucesso, nesse mundo tão impossível. Tudo é impossibilidade, tudo é limite - o real é o mundo do não. A beleza que eu vi, nunca a vi. Os amores que vivi, vivi só.

Mas lhes digo, com toda a convicção: hoje, sentei-me com o word, e escrevi. Digo para vocês: nada tem tanta realidade quanto a tinta no papel. Ela não será minha, e meu pai está morto - desafio que consigam explicar essas duas fatais realidades.

O texto, meus caros, não explica - dá sentido. Dá começo, meio, fim para o que parte do nada para não chegar nunca.
Quero, meu amor, dar a volta no nada, abraçar o errado: quero o gosto amargo que tem a cama. Quero o mesmo, quero o erro - quando você partir, querida, será o gosto do nada o seu rastro. O retorno impossível do fracasso, você, ao partir, será o gosto que tem o não.

Não esqueça sua hipérbole, querida, seu sorriso nos meus olhos.

terça-feira, novembro 11, 2008

Você anda com ela, perguntando-se das razões de sua atenção continuamente derramada sobre a tua incerta figura. Durante meses, você foi objeto de uma curiosidade simpática, de certa sedução estéril. Você poderia entender a indiferença, o asco, você entende a violência do chão áspero. O carinho, no entanto, tem o efeito de um murro: tua balbuciante resposta não é capaz de te pôr no eixo. Tuas mãos, tua pernas, tua cintura, respondem ao golpe desarticulando-se, transformando-te em um corpo continuamente jogado para frente. Mas ela não cessa de gostar, a empatia.