sexta-feira, março 28, 2008

Os sonhos que eu tenho
Não me fazem gozar
Não sonho com meus mortos
Nem com as mulheres que eu posso ter.
Sonho com meus mortos mortos,
Sonho com as mulheres deusas,
Sonho com a vida viva.

Os sonhos que eu tenho:
Sonho com os prazos
Sonho com as contas
Sonho que fiz
as coisas que de fato fiz

E num sonho
(esse foi o mais estranho)
Na Rebouças com a Faria Lima,
Entre uma mulher que ignora
E um velho que anda
Sonhei que cruzava a rua
Na faixa em local seguro.
A sua estrutura, projetada para frente, não podia sofrer um revés sem cair. O seu refluxo, tornado ódio, destrói o pulmão que o criou. O sangue toma meu corpo e o transforma em coração. O corpo é muito volátil para o peso certo do querer.
O que se segue, é a ausência. Vê: a lacuna, você a separe das massas, uma dilatada, outra indiferente, e isole-a, trabalhe na incomunicável extensão do desejo. Lá, na zona certa e precisa da pulsão, com os pés firmes, salte, e vê. Daisy, percebe: os olhos dela só são verdes enquanto cerrados.

quinta-feira, março 13, 2008

Olhar foi sempre o problema. O seu ângulo reto, suas linhas contínuas até o infinito, o compasso que desenhou o seu molar. O movimento externo, ineficaz e afetado da elipse que faz a sua mão que, ao parar no ar, mostra falanges retas, magras e ansiosas por serrar as minhas. Ou antes (pois nada disso é ver), o movimento contínuo e irritado de algumas de minhas artérias, sua pulsão para frente e a angústia do refluxo do desejo. Sou uma capacidade abstrata de criar traços em seu rosto.