terça-feira, fevereiro 23, 2010

Diálogo à beira do mar mais bonito

Os amantes


Escutas a vida que opera no mar?
Os peixes que vivem no caldo da vida?
Veja, que o mar pulsa,
O êxtase, o milagre
A carne lisa que há
Nestas brocas
Que furam
A água.

Não, só vejo
A morte que me olha -
A vida tem este gosto pálido
Teu corpo de viço
Não experimenta
O sabor que o mundo não tem
De singrar este mar
temos pena.
Olha: uma capa de plástico
cobre esta água e este luto.
Mas cortá-la é preciso
e cortamos:
Um mundo de areia e preguiça nos espreita.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Mon âme est lucide quand il n'y a que tes yeux qui me regardent. Mais la lumière ne se communique pas: je contemple le silence lorsque la poésie passe et je la vois passer.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Tenho o coração cerrado em pinças - é a solidão inteira em que habito. Sempre soube que teu olhar não basta.
As nuvens se chocavam no céu, anunciando aquele suave pesadelo - o ar corre diferente nos pulmões, a natureza, inútil, é rebeldia contra o edifício que arranha o ar. Água corre na sarjeta, e nada muda: que mundo é esse, em que a água não limpa a parte de dentro do intestino?
Fragmento de outro texto, melhor do que esse:
"É a chuva que cai sobre nós, o rádio grita seus números e percebo – estou preso numa fila de carros sem esperança de libertar-me. No frio corte daqueles ombros que atravessaram o asfalto, lembrei-me de você, a pegar seus tênis no quarto. O sentido dessa lembrança escapa-me inteiramente, sou só um peito que transborda entre faróis inúteis. Poderia te perguntar: o que sentiu quando olhava aquele quadro, onde esteve quando eu vivia a planta, preso no concreto? O raspar do motor me responde com um grunhido – seriam meus dedos a triturar-se debaixo do capô desse carro? Não, pois meus dedos estavam firmes sobre o volante, e você nunca saberá que nessa rua tem uma verdade que vai sumir quando se anunciar o movimento. Nunca saberei a verdade (se é que houve alguma) dos teus sapatos no armário. Mas parece-me que nunca soube de outra certeza além do estar aqui, preso no trânsito, e do desejar não estar sozinho nessa tarde fria. Tarde de primavera, não guardas nenhum segredo que eu já não conheça – teus milagres encantam-me, mas não fazem o chão sumir dos meus pés."