A hora do intervalo é a que dura: só o eterno explica o peso que há no peito do corpo que acordou e viu que já era tarde. Percebe que todos os ônibus passaram - a firma já fechou e o escritório já conta as perdas. As pessoas se recolheram - a novela das oito acabou e os olhos abertos não dão Ibope. Dois namorados se encontram cansados na hora indigente que roubaram para o amor. Nos olhos dela o corpo percebe a rejeição e o fim que se anuncia no entretempo.
É manhã, mas eu não respiro o odor do começo - a trilha de sangue que seguem todos. É manhã, o sol não nasceu, só os autômatos levam nossos nomes em seus corpos de poeira. Ontem anunciaram a primavera, mas hoje a chuva anunciou céus pesados e é o chumbo que chove nas gramas.
De novo, constato? Nenhuma flor nasceu na rua. Um sabiá range sobre uma folha de palmeira. O verde tem a cor do alumínio. Não, poeta, você não acordou - não acorde que o tempo é de dormitar. Antes dormir para sempre do que acordar nessa terra de aço: acordar é perder o bonde do que se desperta.
Um comentário:
Ouais,mon ami...
Ça fait vraiment souffrir de se "réveiller" et de sentir le poids de la dure réalité de la vie quelquefois...
Faut trouver quand même des fleurs si l´on ne veut pas "mourir" complètement...
Je cherche toujours au moins une toute petite fleur entre le marécage pour pouvoir me soutenir...
Et toi... mon cher, t´as l´écriture, tes livres, ton amour, TES AMIES !!! ;-)
;)
Tu ne seras jamais seul...
Trop beau ton texte...
A plus!
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