quarta-feira, setembro 23, 2009

A hora do intervalo é a que dura: só o eterno explica o peso que há no peito do corpo que acordou e viu que já era tarde. Percebe que todos os ônibus passaram - a firma já fechou e o escritório já conta as perdas. As pessoas se recolheram - a novela das oito acabou e os olhos abertos não dão Ibope. Dois namorados se encontram cansados na hora indigente que roubaram para o amor. Nos olhos dela o corpo percebe a rejeição e o fim que se anuncia no entretempo.
É manhã, mas eu não respiro o odor do começo - a trilha de sangue que seguem todos. É manhã, o sol não nasceu, só os autômatos levam nossos nomes em seus corpos de poeira. Ontem anunciaram a primavera, mas hoje a chuva anunciou céus pesados e é o chumbo que chove nas gramas.
De novo, constato? Nenhuma flor nasceu na rua. Um sabiá range sobre uma folha de palmeira. O verde tem a cor do alumínio. Não, poeta, você não acordou - não acorde que o tempo é de dormitar. Antes dormir para sempre do que acordar nessa terra de aço: acordar é perder o bonde do que se desperta.

Um comentário:

Daniela Rodrigues Badra disse...

Ouais,mon ami...
Ça fait vraiment souffrir de se "réveiller" et de sentir le poids de la dure réalité de la vie quelquefois...
Faut trouver quand même des fleurs si l´on ne veut pas "mourir" complètement...
Je cherche toujours au moins une toute petite fleur entre le marécage pour pouvoir me soutenir...
Et toi... mon cher, t´as l´écriture, tes livres, ton amour, TES AMIES !!! ;-)
;)
Tu ne seras jamais seul...
Trop beau ton texte...
A plus!