quinta-feira, setembro 27, 2007

Nenhuma invasão, possível, é justificável. Eu tive dois dedos de qualquer coisa, e a estética daquela música não podia deixar de ser humana. Ah, mas a humanidade pode ser cruel naquilo mesmo que a faz diferente! O próprio do homem cria as condições para o amor, mas só o amor sublimado é inteiramente desejável.

Comecei a decidir, em meu carro, que a música, sendo amarga, não podia ser desagradável. Pois era preciso que fosse inteiramente humana, um corpo nu para que explodisse nos seus traços impossíveis, mesmo indesejáveis. E o corpo, como se sabe, nega, e toda a sua bela negritude, toda a sua pele que brilha na inteira perfeição do absoluto opaco é uma traição injustificável. Veja, por exemplo, ela, que atravessa a rua. Uma linha invisível separa-a do ambiente, e ela anda como se uma cama de veludo enrolasse os seus braços. Mas ela se nega a ignorar-me, e com um sorriso devolve os olhos que já não possuía. Ela, sendo perfeita, recusa-se a ser deusa.

Mas a música evolui para o seu segundo acorde.

2 comentários:

Cristina Casagrande disse...

Hummm...gostei:)

Daniela Rodrigues Badra disse...

Nossa, esse é um dos mais lindos !!! ;-)