Algo como um
Voltamos então para casa. Fizemos algumas piadas. Era claro que estávamos cansados. Deitei-me no sofá. Trouxeram um banquete. Não tive fome, mas os outros comeram tudo.
Imaginem uma casa, na qual vive uma pessoa, mais algumas outras. Agora imaginem essa casa sem essa pessoa. Sem tufões, sem terremotos, só uma ausência. No escuro, quando acordam, tateando em busca da luz, já se surpreenderam ao não tropeçar em um móvel que não está mais lá? Já caíram ao tentar se apoiar numa mesa que havia sido tirada no dia anterior? Nem essa sensação tivemos. Comemos apenas.
Na verdade, tudo se reduz a um ajuste de hábitos. Quando você entrava, você o cumprimentava. Bem. Tudo agora se reduz, e isso é a real aceitação da morte, a não cumprimentar mais. Claro que não é imediato. Você, após um dia duro de trabalho, terá vontade de chegar em casa e falar em futebol. Antes de lembrar-se (a morte é uma memória do fim), você dirá oi a um vazio, a um nada. Olhar sem sujeito, interlocutor vazio. Uma hora passa.
Claro, todo remédio tem a sua cura. No fundo, toda doença é uma mania. Somos obstinados por algo que, sabemos, não tem nenhuma importância. Ter alguém para dizer boa noite, não ter, é indiferente.
Logo, não há choro que não seja falso. Choramos pensando no que vamos jantar amanhã. Choramos porque no juízo final, não queremos que deus ponha um dedo gordo na nossa cara e diga "Não choraste por teu pai."
Felizes são os cachorros, que só lembram de nós quando chegamos em casa. É deles o afeto verdadeiro. Me reservo o direito de esquecer meu pai.
quarta-feira, outubro 04, 2006
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